25/07/2022

Review: Cem Gramas de Centeio - Agatha Christie

Cem Gramas de Centeio Cem Gramas de Centeio by Agatha Christie
My rating: 5 of 5 stars



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Como sempre, gosto de compartilhar opiniões diversas sobre os livros de Agatha, pois sempre tem um fã com mais talento do que eu para escrever resenhas ;-)

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Também chamado de Um Punhado de Centeio aqui no Brasil, este livro de 1953 nos traz uma uma atuação diferente de Miss Marple em uma investigação, isso residindo no fato de que ela não é a detetive principal da aventura, apenas uma conselheira falsamente humilde (quase um jogo de Megera Domada) para o preocupado e charmoso Inspetor Neele, metido em um mecanismo extremamente engenhoso de um assassino que sabe muito bem se esconder à vista de todos.

A história começa de modo mais forte do que termina, tendo inclusive uma abordagem consideravelmente distinta daquela a que Agatha Christie normalmente escolhia para apresentar seus ambientes de crime. As observações iniciais para o local de trabalho do estranho Sr. Rex Fortescue recebem aqui um toque crítico e bastante irônico, com a autora fazendo observações sobre a escolha para diferentes secretárias e aludindo a um certo tratamento abusivo ou objetificado para a mulher nesses ambientes. Pra falar a verdade, Agatha Christie sempre procurou ironizar a percepção do papel da mulher nos mais diversos espaços, mas em narrativas como esta a alfinetada é menos sutil e bem mais interessante.

Numa manhã normal de trabalho, o inescrupuloso Sr. Fortescue, que aparentemente estava saudável, bebe o seu chá no escritório e sofre um ataque, sendo logo socorrido e morrendo no hospital. A validação do título do romance e parte do mistério que sustentará a narrativa vem com a seguinte estranheza: no bolso do homem é encontrado um punhado de grãos de centeio. Ninguém sabe como esses grãos foram parar lá. Mais adiante na narrativa, quando Miss Marple começa a fazer suas pequenas observações, uma canção infantil que ela lembra ao Inspetor Neele traz novamente o centeio à tona, e elenca mais uma série de outros ingredientes curiosos que surgem no meio do mistério, que ganha mais mortos e novos métodos.

Reparem que canção mais singela:
Com cem gramas de centeio
E vinte melros de recheio
Basta fechar a panela
E esperar que se ponham a cantar
Uma torta tão bonita não faria o rei vibrar?
Enquanto ele no escritório, o dia inteiro,
Pensa só em ganhar dinheiro,
A rainha na sala sozinha
Come o pão com mel que lhe trazem da cozinha.
A criada, no quintal, estende a roupa, feliz,
Até que um passarinho safado lhe morde o nariz.

Rapidamente a história passa de um drama do ambiente de trabalhado para um mistério familiar. Essa transição de foco é organizada pela autora mantendo as muitas surpresas possíveis em torno da morte, momento onde construímos as nossas primeiras suspeitas. Como o Inspetor Neele é um personagem muito bom, nos afeiçoamos a ele e por isso mesmo tenho minhas dúvidas se a presença de Miss Marple aqui era realmente necessária. Em termos de intenção, é perfeitamente compreensível que a autora quisesse colocar a personagem numa história onde ela não teria que fazer todo o trabalho, estando assumidamente como coadjuvante do caso. No entanto, essa chegada tardia da simpática velhinha e o que a história exige em termos de investigação plantam essa dúvida de necessidade de sua presença, até porque algumas cenas com Miss Marple conversando com os moradores da casa não parecem assim tão interessantes, especialmente no final.

Cem Gramas de Centeio apresenta um ambiente familiar bem fácil de chamar a nossa atenção e de nos entreter, com cada personagem sendo uma criação exagerada típica de um suspense policial sobre diferentes forças e suspeitas agindo sob o mesmo teto (estou pensando em Entre Facas e Segredos nesse momento), embora o foco da autora aqui seja bem preciso. O livro deixa de funcionar melhor nas ligações com Miss Marple no último ato, mas nada assim tão grave. Um suspense que chama a atenção para a peculiaridade do sentimento de vingança e para a capacidade que alguns indivíduos têm de se esconder em suas boas qualidades, enquanto praticam crimes e pensam em formas de beneficiarem a si mesmos. A cena final do livro é solene e até capaz de nos fazer lacrimejar um pouco. Uma gota de humanidade e sentimento no meio de tanta miséria.

Cem Gramas de Centeio (A Pocket Full of Rye) — Reino Unido, 9 de novembro de 1953
Editora original: Collins Crime Club
Autora: Agatha Christie
Edição lida para esta crítica: Nova Fronteira, 2015
Tradução: Milton Persson
232 páginas

05/07/2022

Review: Assassinato no campo de golfe - Agatha Christie

Assassinato no campo de golfe Assassinato no campo de golfe by Agatha Christie
My rating: 5 of 5 stars



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RESENHA | Assassinato no campo de golfe, Agatha Christie


Voltar ao início é uma experiência interessante.

Descobri Agatha Christie em 2003, e o primeiro título da autora a ser marcado na minha carteirinha da biblioteca do colégio foi Assassinato no Campo de Golfe. Li em poucos dias, arregalei os olhos quando Hercule Poirot revelou o culpado, surtei com a longa e detalhada explicação do detetive, a quem nenhum detalhe, por mínimo que fosse, passara despercebido. Perdi a conta de quantos livros da autora conhecida como a Rainha do Crime li desde então (mentira: foram 58). Com o tempo, o sentimento de espanto com os desfechos imprevisíveis criados pela inglesa foi sendo substituído por algo diferente, mas não menos agradável: um apreço pela técnica, pela perícia com que estas histórias são estruturadas. Foi com essa mentalidade que revisitei Assassinato no Campo de Golfe 14 anos depois, desta vez numa caprichada edição da Globo Livros.

No livro, lançado em 1923, Hercule Poirot e seu fiel amigo Arthur Hastings (narrador da aventura) embarcam para a França, atendendo ao chamado do milionário monsieur Renauld. Em carta endereçada ao detetive belga, o homem pediu ajuda, declarando que sua vida estava em perigo. Ao chegarem à Villa Geneviève, residência do cliente, os dois descobrem que Renauld fora assassinado naquela madrugada, apunhalado pelas costas num campo de golfe próximo. Ao lado do corpo, uma cova aberta recentemente. Nada mais natural que Poirot e Hastings se envolverem na investigação do caso.

Assassinato no Campo de Golfe é um romance policial clássico, com todos os elementos que poderíamos esperar de um. Tudo é carregado de uma atmosfera misteriosa, todos estão sob suspeita. Os oficiais da polícia francesa incumbidos do caso estão constantemente boquiabertos diante dos bizarros acontecimentos e de cada nova e desconcertante pista encontrada. Os testemunhos dos familiares de Renauld e dos empregados da casa por si só soam suspeitos, e sobram lacunas na vida pregressa de quase todos os personagens. Os acontecimentos são encenados de modo a enfatizar a estranheza do que está em curso.

É um arranjo que conta com certa artificialidade, mas esta faz parte da lógica de construção destas histórias. Agatha Christie e tantos outros autores da Era de Ouro propunham jogos, dispunham as peças embaralhadas e davam ao leitor e ao detetive as mesmas chances de organizá-las. Esse caráter de desafio é o que torna Assassinato no Campo de Golfe e outros livros semelhantes sobretudo divertidos, pois impulsionam o leitor a desejar o desfecho mais do que qualquer outro ingrediente na narrativa.

Não é surpresa, portanto, que os personagens não sejam tão bem desenvolvidos assim, que certos diálogos soem exageradamente dramáticos ou artificiais, que sejam inúmeros os momentos em que Hastings se espante diante do brilhantismo de Poirot (e de sua própria ignorância). Estes componentes da narrativa são secundários, menores em relação à trama; esta, sim, é o centro da obra. Desde que o enredo funcione, as demais falhas são perdoáveis, pois nunca houve um grande investimento nas demais áreas.

Este não é o ideal, é claro: em qualquer obra literária, a trama deve funcionar, os personagens devem ser críveis, os diálogos, plausíveis, enfim, deve haver equilíbrio. A própria Agatha Christie o demonstra em diversos outros trabalhos – E Não Sobrou Nenhum, A Mansão Hollow, Assassinato na Casa do Pastor, Nêmesis, A Casa Torta, Os Cinco Porquinhos, para citar alguns exemplos. Mas, infelizmente, não é o caso aqui. Talvez a explicação esteja na inexperiência da própria autora, já que estamos falando de seu terceiro livro, mas, seja qual for o motivo, parece-me inegável que Assassinato no Campo de Golfe sofre com personagens rasos, melodrama desnecessário e excessos na representação da genialidade de Poirot.

Mas o entretenimento está mesmo na investigação dos inusitados acontecimentos ocorridos em Villa Geneviève, e nisso o livro é exemplar. O cenário desorganizado vai aos poucos tomando forma a partir do olhar apurado de Poirot, pistas pequenas mostram-se muito mais significativas do que se pensava e os suspeitos mais improváveis vão ganhando contornos cada vez mais soturnos. O que nunca faltou à Agatha Christie foi habilidade para jogar com a percepção dos leitores, deixando-os no escuro, só para, ao final, revelar que a verdade sempre esteve às vistas de todos. É incrível constatar, tantos anos depois, como o mistério ainda funciona bem.

Se por um lado minha segunda experiência com Assassinato no Campo de Golfe foi bem menos apaixonada que a primeira, também me permitiu perceber o que foi tão fascinante naquele primeiro contato, e acredito que possa fascinar outros leitores: a engenharia da trama, a técnica com que a autora segue enganando milhões de pessoas. Agatha Christie sempre vale a pena.



01/07/2022

Review: A Morte da Sra. McGinty - Agatha Christie

A Morte da Sra. McGinty A Morte da Sra. McGinty by Agatha Christie
My rating: 5 of 5 stars



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São vários livros que li e nem sempre faço um resuminho, nem comentário e descobri que a Sra McGinty foi uma dessas leituras que deixei passar!
Aproveito assim e compartilho a resenha de um fã de Agatha, para sabermos que nunca estamos sozinhos!!

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BLOG da Happy Batatinha Projeto Agatha Christie
1952 A Morte da Sra. McGinty
Término 06/07/2022 - em PDF


Título: A Morte da Sra. McGinty
Autor(a): Agatha Christie
Editora: L&PM Editores
Número de páginas: 272
Classificação: 5/5
http://escritorawhovian.blogspot.com/...

"O caso parecia simples: a sra. McGinty foi assassinada por seu inquilino, James Bentley, que lhe roubou trinta libras. Desempregado e sem dinheiro, Bentley teve o motivo e a oportunidade e por isso foi considerado culpado.
Mas quando o superintendente Spence pede a Poirot que investigue melhor o caso, o detetive belga imediatamente percebe que um grande erro foi cometido. Agora, Poirot terá que correr contra o relógio para resgatar um homem inocente da execução – e também para salvar a própria vida.
Agatha Christie combinou seu talento para criar histórias instigantes com um inesperado toque de humor, fazendo de A morte da sra. McGinty um de seus mistérios mais surpreendentes e divertidos."

Logo no início da trama nos deparamos com Hercule Poirot, o famoso detetive belga responsável por solucionar diversos crimes. Contudo, desde que se aposentou, a sua vida parece ter perdido a emoção de antigamente. Agora, Poirot faz questão de se dedicar às três refeições diárias, que são muito importante para ele. Mas, tirando esse pequeno fator, a vida do detetive pode ser considerada bem entediante. A verdade é que Hercule sente falta de seu trabalho de detetive, do desafio intelectual envolvido em cada investigação.

Essa situação de paz, calmaria e um pouco tediosa vai mudar após o jantar (a refeição mais importante do dia, segundo Poirot), quando o detetive recebe a visita de um ex-colega de profissão, o detetive Spence. Apesar do clima agradável, Spence não está lá para visitar o seu velho colega, e sim para conseguir uma ajuda. Ele está trabalhando em um caso peculiar, no assassinato da Sra. McGinty, e acredita que o suspeito, James Bentley, é inocente.

"— Sim. Se consideramos que James Bentley é inocente, nos restam duas possibilidades. As evidências podem ter sido usadas deliberadamente para despertar suspeitas contra ele. Ou então ele foi apenas uma vítima infeliz das circunstâncias".

Todas as provas apontam para Bentley: ele estava precisando de dinheiro, estava desempregado e era um sujeito um pouco estranho. Porém, Spence está certo de ele é inocente, que ele não tinha motivos para matar a velha senhora e a única pessoa capaz de solucionar isso é Hercule Poirot. O detetive belga é conhecido por seu olhar observador, por sempre prestar atenção dos pequenos detalhes que passam despercebido. Se tem uma pessoa que pode resolver esse crime, apontar o verdadeiro assassino, essa pessoa é Hercule Poirot.

Para conseguir desvendar esse mistério, Poirot começa a investigar a vida da falecida Sra. McGinty, de seus parentes, amigos, empregadores e os possíveis motivos que alguém teria para a matar. E a medida em que o detetive vai descobrindo sobre o passado da mulher, mais perto ele fica de capturar o assassino.

"— Não, madame — informou Poirot. — Ele não foi enforcado... ainda. E o caso da sra. McGinty ainda não está encerrado. Citando um verso de uma célebre poeta da língua inglesa: 'Uma questão só é resolvida quando resolvida corretamente'".

Sabe aquele livro que não é nada previsível? Que toma um rumo completamente diferente do que o esperado? Eu sempre tenho essa sensação quando estou lendo as obras de Agatha Christie. "A Morte da Sra. McGinty" não pode ser um dos clássicos da autora, mas ainda assim trata-se de uma história consistente e com um final surpreendente. O que mais me encanta, é como Christie consegue tirar inspiração de coisas tão singelas, como uma cantiga de criança, e transformar em uma obra incrível.

Se você, assim como eu, gosta dos livros da autora e do Hercule Poirot, a leitura de "A Morte da Sra. McGinty" é obrigatória!

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