Desafio Especial: Literatura Nacional
Reading Challenge 41 - Um Autor que nunca leu antes
Quando começa o ano, parece que as escolhas, programações, e tudo mais será simples...
Quero fazer parte dos desafios literários, pois para quem gosta de ler, 52 livros em um ano não parece muito, até você TER que ler - pelo menos 12 - o CAOS se instala e pronto - só correria...
Achei que seria mais fácil cumprir, mas não vou desistir da minha meta e vou, devagar, mas chegarei ao fim de ano e vencerei os desafios....
Desde o começo do ano procuro primeiro um livro nacional para encaixar nos temas, ou mesmo um clássico...
Para esse desafio achei que já era hora de fazer duas escolhas - conhecer o Escritor Chico Buarque e matar a curiosidade que sempre tive de ler "Chapeuzinho Amarelo" - muito infantil???
Sei lá... eu achei um doce!!!!
Para aqueles que gostam do Compositor - segue um resumo da vida desse grande personagem Brasileiro - Chico Buarque de Holanda:
Vida e Obra do Autor
http://www.uems.br/seminarioemeducacao/anais/07.Moysa.pdf
Francisco Buarque de Holanda, filho do renomado historiador Sérgio Buarque de Holanda e de Maria Amélia Cesário Alvim, nasceu no Rio de Janeiro, em 19 de junho de 1944.
Desde criança, Chico sentia-se atraído pela música. Aos quinze anos, estreia num show de estudantes com a música de sua autoria Marcha para um dia de sol.
De ouvidos atentos, Chico deixou-se levar pela voz e a bossa nova de João Gilberto na composição de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, situação que influenciaria os rumos de sua vida artística.
Chegou à vida universitária no início da década de 1960, auge do movimento popular e estudantil que precedeu o golpe militar de 1964. Em 1965, reunindo poesia ao futebol, feijoada à música, a solidariedade ao bom humor, Chico escreve os sessenta versos de Pedro Pedreiro e, também no mesmo ano, é convidado por Roberto Freire a musicar Morte e vida severina, de João Cabral de Mello Neto.
Apesar de o Brasil já estar sob as botas da ditadura, a televisão era ainda incipiente e a juventude da época respirava música, teatro, literatura e cinema brasileiros. Em 1966, A banda ganha o II Festival de Música Popular Brasileira da TV Record. No mesmo ano, Chico grava seu primeiro LP e se torna uma celebridade nacional e internacional.
Aos poucos, o regime endurecia e forçava aqueles que participavam do mundo da produção cultural, catalisadores do pensamento nacional, a tomar posições. Em 1967, as ruas brasileiras começaram a sentir o estremecimento provocado pelos tanques e pelas botinas dos militares no poder. No ano de 1968, Chico Buarque escreve a peça teatral Roda viva, que desafiou a repressão que o país sofria e obteve plausível sucesso no meio cultural paulista. Quando o Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, “explodiu”, a vida de Chico tornou-se conturbada, sendo, inclusive, no dia 18 do mesmo mês, acordado com os militares já forçando a porta de seu apartamento. Assim, reprimido, no dia 03 de janeiro de 1969, ele e sua então esposa, Marieta Severo, embarcaram para Cannes, na França. Exilados, a primeira filha do casal, Silvia, acabou nascendo na Itália, em 28 de março de 1969.
Mesmo estando a ditadura sob o poder do general mais linha dura, Emílio Garrastazu Médici, que num discurso político do “pão e circo” fomentava o slogan “Brasil: ame-o ou deixe-o”, Chico e a família retornam, no início de 1970, ao Brasil. Em 1971, lançou Construção, dando tons concretos à realidade dura dos brasileiros das classes mais populares, flagrando a impossibilidade de ação diante das grandes estruturas de poder que se formavam no começo dos anos 1970. Chico mostrou os tons obscuros da política militar do “pão e circo”, que buscava a alienação das massas, sob o manto do patriotismo exacerbado.
Tendo se transformado num símbolo de luta contra a ditadura, Chico, com o intuito de escapar da censura, criou o pseudônimo Julinho da Adelaide. Julinho compôs três músicas: Acorda amor, Jorge Maravilha e Milagre brasileiro.
Em 1974, escreveu sua primeira obra literária, Fazenda modelo, baseado no livro A revolução dos bichos, de George Orwell, e, em 1977, lança seu primeiro disco para crianças, intitulado Saltimbancos, baseado no conto Os músicos de Bremen, dos Irmãos Grimm. No fim da década de 1970, a crise do petróleo fez cair por terra as ilusões do milagre brasileiro sustentadas pelo governo militar. Assim, a ditadura perdia a única justificativa possível: o crescimento econômico. Os generais preparavam sua saída e anunciavam a anistia aos exilados.
Foi nesse processo inicial de redemocratização que Chico Buarque estreia na área da literatura infantil e lança, em 1979, o livro Chapeuzinho amarelo.
Pessoal - me sinto muito intimidada com essa de fazer resenhas - prefiro indicar - quando não me sinto inspirada - outros Blogs, pois vamos combinar, temos muitos Blogueiros com muito talento, vamos prestigia-los:
Resenha de Chapeuzinho Amarelo — Chico Buarque de Holanda
de tanto pensar no lobo,
de tanto sonhar com lobo,
de tanto esperar o lobo,
um dia topou com ele
que era assim:
carão de lobo,
olhão de lobo,
jeitão de lobo
e principalmente um bocão
tão grande que era capaz
de comer duas avós,
um caçador,
rei, princesa,
sete panelas de arroz
e um chapéu
de sobremesa ....
A expressão “Era a Chapeuzinho Amarelo” assinala o começo do novo conto e faz alusão direta à fórmula “Era uma vez”. Existe, no entanto, uma diferença: a abertura do texto não está direcionada para um acontecimento que talvez tenha acontecido “uma certa vez”, mas descreve a atitude de uma menina que transforma a fantasia dos contos em sua própria realidade.
O leitor ao ler o título “Chapeuzinho Amarelo”, imediatamente dirá: “Eu já li esse livro!”... “mas o chapeuzinho era vermelho!”, “será que também tem lobo nessa história e vai comer a chapeuzinho?”, porém ao virar a página percebe que é diferente do conto original, já que a menina do Chapeuzinho Amarelo, apresenta uma heroína que com características culturais de um novo tempo enfrenta os conflitos presentes na criança moderna que, muitas vezes, se deixa dominar pelo medo e esse medo de tudo a impede de viver enquanto criança, isolando-a do mundo, dos prazeres da infância e da alegria de viver.
Nessa nova versão de Chapeuzinho, texto e imagens afirmam que Chapeuzinho Amarelo tinha muito medo de encontrar um lobo fantasioso, que tal como o velho lobo, este novo lobo também era capaz de não só comer a vovozinha, mas também um caçador, rei, princesa, sete panelas de arroz e um chapéu de sobremesa e, este medo é muito bem ilustrado por Ziraldo que utiliza uma figura-fundo onde a sombra projetada pelas pernas de Chapeuzinho sugere formar a boca do lobo pronto para devorá-la e, essa “boca”, representa o medo que a menina possuía de um lobo não-existente que só aparece como uma sombra recortada na claridade.
Sem receber ajuda de nenhuma “entidade mágica”, Chapeuzinho tem que enfrentar “ O medo do medo do medo de um dia encontrar um LOBO...Um LOBO que não existia” e este confronto torna-se decisivo para o desenlace da história, pois neste momento ocorre o conflito entre o personagem e a possível solução do mesmo e, é esta mudança de atitude que rompe a opressão, o controle e faz com que se liberte do conformismo e da passividade da antiga menina — Chapeuzinho Vermelho.
Neste confronto, a ilustração que acompanha a menina e o lobo mostra os dois frente a frente com as mãos abaixadas, como se estivessem prontos para uma luta — a defesa de seu espaço — e a menina percebe que o lobo já não lhe causa nenhum medo e, na ilustração seguinte, apresenta uma Chapeuzinho já sem medo do lobo, com o corpo projetado para a frente e encarando o lobo e, a partir deste encontro, Chapeuzinho que se fechava para o mundo, presa à sua imaginação, começa a enxergar o lobo como um animal qualquer, provavelmente incapaz de devorar pessoas, portanto, já não o vê mais como um animal traiçoeiro e cruel capaz de engoli-la sem mastigar.
O Lobo, por sua vez, ao compreender que a menina não tinha mais medo e, portanto, não reage conforme suas expectativas, sente-se desmoralizado e isto é ressaltado na ilustração quando o lobo perde sua identidade pavorosa e ganha a imagem de um verdadeiro palhaço.
Na tentativa de recuperar seu papel de vilão dominador, grita seu nome várias vezes e ao ouvir seus gritos Chapeuzinho Amarelo não demonstra medo, como nas versões consagradas do conto e, mais uma vez, o narrador afirma que a menina conhece as antigas histórias em que o lobo aparece como sendo mau, insaciável, destruidor. Para afirmar isso, usa a palavra "enjoada", o qual subentende-se que a menina está saturada desse animal faminto que aparece em tantas histórias que ouviu ou leu e, como tal, despreza suas garras e presas às quais considera inofensivas e, portanto, a Chapeuzinho Amarelo, neste momento, revela uma nova imagem: corajosa, forte, dominadora e ousada.
A superação do medo é também percebida através da decomposição em sílabas da palavra "lobo" e da inversão destas sílabas e, o próprio lobo, através do grito e da repetição do seu nome “....lo-bo-lo-bo-lo-bo-lo-bo-lo...” , na tentativa de recuperar sua imagem amedrontadora, colabora para sua transformação da palavra “lobo” em "bolo"!
Nesse momento “O LOBO” vira “um lobo”, ou melhor dizendo “um lobo bolo” todo decorado pela imaginação da Chapeuzinho, que podia degustá-lo, mas preferiu não comer aquele “bolo de lobo”, porque sempre preferiu o de chocolate...
Um outro fator interessante e importante na história é a transformação da figura do lobo através da própria palavra"LOBO", que, inicialmente, aparece em letras maiúsculas até quando a menina o confronta e, a partir do momento que ela perde o medo, a grafia passa a ser minúscula: "lobo", portanto, menos perigoso do que “LOBO”.
A partir desse momento, o autor não mais se refere à menina como Chapeuzinho Amarelo, uma vez que a palavra "Amarelo" significa o medo que ela sente do lobo e quando esse medo desaparece, ela escapa, com talento e coragem, da prisão nominal de Chapeuzinho Amarelo — Agora ela é a "Chapeuzinho" ou "a menina", que passa a ser simplesmente menina e, como tal, passa a se divertir com outras crianças e, aparece então, brincando de amarelinha com as bochechas vermelhas — sinal evidente de que o medo passou — já não é mais amarela — e na última página, o chapéu aparece como se fosse jogado para o ar...
A essa altura descobrimos uma menina que pela sua coragem, capacidade e sagacidade aprendeu como transformar o velho em novo, portanto, apta para fazer suas próprias escolhas. Utilizando-se de trocadilhos e deslocamentos, entre palavra-som-imagem, a menina, recria outros companheiros dos quais qualquer “menina”poderia ter medo: dragão, coruja, tubarão, bicho-papão e outros monstros e, ao mesmo tempo, apresenta “comportamentos”muitas vezes não esperados para meninas: como entrar no mato, trepar em árvores e roubar frutas..
Inventa uma brincadeira.
E transforma em companheiro
cada medo que ela tinha:
o raio virou orrái,
barata é tabará,
a bruxa virou xabru
e o diabo é bodiá.
Pode-se dizer que a paródia de Chico Buarque — ao contrário do conto tradicional Chapeuzinho Vermelho,no qual o Lobo ocupa a posição de dominador com características de maldade e agressividade e a Chapeuzinho representa posição de dominada, com suas características de ingenuidade e impotência — descreve a atitude de uma menina que transforma a fantasia dos contos de fadas em sua própria realidade, porém, ao confrontar seus medos transforma-se numa menina forte e dominadora e, o Lobo, fraco e dominado.
Vale ressaltar que o jogo visual utilizado para ilustrar o medo da menina,neste livro, imediatamente, nos remete às brincadeiras em que as crianças produzem imagens a partir da sombra de suas mãos.
Chico Buarque aborda com mestria, a eficácia simbólica da poesia — a vitória sobre o medo, por meio do poder da palavra — na questão do desenvolvimento infantil, os percalços da criança para crescer, e sobretudo da questão primordial do enfrentamento do “medo” , não só do medo infantil, mas também, medo da criança que habita em cada um de nós e que muitas vezes nos impede de viver.
Mostra ainda que para a criança e também para alguns de nós, os grandinhos, a realidade é contraditória, ambígua, e que para viver precisamos aprender a viver de uma forma mais real possível e não numa realidade que muitas vezes é deformada por nós mesmos, nos privando de fazermos as coisas corriqueiras por medo ao desconhecido que pode nos trazer “alguns riscos inevitáveis”, porém, quando o enfrentamento se impõe, o objeto desse medo surge nas suas reais dimensões e o medo desaparece e, portanto, crescemos e aprendemos a viver.
Era a Chapeuzinho Amarelo.
Amarelada de medo.
Tinha medo de tudo, aquela Chapeuzinho.
Já não ria.
Em festa, não aparecia.
Não subia escada, nem descia.
Não estava resfriada, mas tossia.
Ouvia conto de fada, e estremecia.
Não brincava mais de nada, nem de amarelinha
Minhoca, pra ela, era cobra.
E nunca apanhava sol, porque tinha medo da sombra.
Não ia pra fora pra não se sujar.
Não tomava sopa pra não ensopar.
Não tomava banho pra não descolar.
Não falava nada pra não engasgar.
Não ficava em pé com medo de cair.
Então vivia parada, deitada, mas sem dormir, com medo de pesadelo.
Era a Chapeuzinho Amarelo…
O medo mais que medonho era o medo do tal do LOBO. Um LOBO que nunca se via,
que morava lá pra longe,
do outro lado da montanha,
num buraco da Alemanha,
cheio de teia de aranha,
numa terra tão estranha,
que vai ver que o tal do LOBO
nem existia.
tinha cada vez mais medo do medo do medo
do medo de um dia encontrar um LOBO.
Um LOBO que não existia.
E Chapeuzinho amarelo,
de tanto pensar no LOBO,
de tanto sonhar com o LOBO,
de tanto esperar o LOBO,
um dia topou com ele
que era assim:
carão de LOBO,
olhão de LOBO,
jeitão de LOBO,
e principalmente um bocão
tão grande que era capaz de comer duas avós,
um caçador, rei, princesa, sete panelas de arroz…
e um chapéu de sobremesa.
Mas o engraçado é que
assim que encontrou o LOBO,
a Chapeuzinho Amarelo
foi perdendo aquele medo:
o medo do medo do medo do medo que tinha do LOBO.
Depois acabou o medo e ela ficou só com o lobo.
O lobo ficou chateado de ver aquela menina
olhando pra cara dele,
só que sem o medo dele.
Ficou mesmo envergonhado, triste, murcho e branco-azedo,
porque um lobo, tirado o medo, é um arremedo de lobo. É feito um lobo sem pelo.
Um lobo pelado.
Ele gritou: sou um LOBO!
Mas a Chapeuzinho, nada.
E ele gritou: EU SOU UM LOBO!!!
E a Chapeuzinho deu risada.
E ele berrou: EU SOU UM LOBO!!!!!!!!!!
Chapeuzinho, já meio enjoada,
com vontade de brincar de outra coisa.
Ele então gritou bem forte aquele seu nome de LOBO
umas vinte e cinco vezes,
que era pro medo ir voltando e a menininha saber
com quem não estava falando:
LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO
"Pára assim! Agora! Já! Do jeito que você tá!"
E o lobo parado assim, do jeito que o lobo estava, já não era mais um LO-BO.
Era um BO-LO.
Um bolo de lobo fofo, tremendo que nem pudim, com medo de Chapeuzim.
Com medo de ser comido, com vela e tudo, inteirim.
Chapeuzinho não comeu aquele bolo de lobo,
porque sempre preferiu de chocolate.
Aliás, ela agora come de tudo, menos sola de sapato.
Não tem mais medo de chuva, nem foge de carrapato.
Cai, levanta, se machuca, vai à praia, entra no mato,
Trepa em árvore, rouba fruta, depois joga amarelinha,
com o primo da vizinha, com a filha do jornaleiro,
com a sobrinha da madrinha
e o neto do sapateiro.
Mesmo quando está sozinha, inventa uma brincadeira.
E transforma em companheiro cada medo que ela tinha:
O raio virou orrái;
barata é tabará; a bruxa virou xabru; e o diabo é bodiá.
FIM
o Gãodra, a Jacoru,
o Barãotu, o Pão Bichôpa…
e todos os tronsmons).
Chapeuzinho Amarelo
Autor: Chico Buarque de Holanda
Ilustrador: Ziraldo
Assunto: Infanto-Juvenil — Literatura Infantil
Editora: José Olympio
Preço: De R$ 10,90 até R$ 22,00
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